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CARNAVAL 2012

Oscar Niemeyer confere sambódromo do Rio remodelado ‘in loco’

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publicado em 09/02/2012 ás 09h10

Sob sol forte, a temperatura que beirava os 40°C e o asfalto escaldante da Avenida Marquês de Sapucaí, o arquiteto Oscar Niemeyer, de 104 anos, esteve ontem no sambódromo para conhecer em três dimensões a passarela do samba que projetou 28 anos atrás.

Em uma espécie de carrinho de golfe, percorreu ao lado do prefeito Eduardo Paes (PMDB) cerca de 200 metros da avenida. Foi saudado pelos operários, que usavam seus celulares para tirar fotos do visitante ilustre.

"Essa obra não é só minha. É de um grupo que trabalha comigo. Estou muito contente em ver um trabalho como esse. Estou entusiasmado", disse o arquiteto.

Quando desenhou o sambódromo, em 1984, Niemeyer esbarrou em um problema: a enorme fábrica da Brahma, que ainda funcionava, instalada próximo do que seria o lado par da avenida. Aquele trecho não tinha arquibancadas, apenas camarotes. O resultado foi um visual desequilibrado, que persistiu por quase três décadas.

Ao longo dos anos 1990, a fábrica já desativada, a prefeitura tentou demolir o prédio em duas ocasiões, mas o edifício estava tombado.

Somente neste ano veio a autorização para colocá-lo abaixo. O escritório de Oscar Niemeyer refez o projeto. "Ele olhou tudo, deu palpites do começo ao fim", contou o arquiteto João Niemeyer, sobrinho de Oscar. "Agora a passarela ficou exatamente como a ideia original, com arquibancadas iguais dos dois lados. O arco da Apoteose ficou bem no meio. Harmonizou o sambódromo".

Com o novo traçado, o sambódromo terá mais quatro arquibancadas, nos setores 2,4,6 e 8 – são mais 12.500 lugares. O projeto também permitiu ampliar o número de frisas (mais 729). Os novos camarotes serão mais amplos – para 15 ou 18 convidados, enquanto no antigo cabiam 12 – e os do segundo andar terão ainda varanda panorâmica.

A obra será entregue neste domingo. Para dar conta de tudo, 600 trabalhadores se revezam em turnos dia e noite. A reforma custou R$ 30 milhões e foi financiada pela Ambev. "Niemeyer fez questão de vir e queria ver a obra antes da inauguração. É um exagero do profissionalismo. Ele enfrentou o sol, o calor, para ver o resultado de um trabalho. É um exemplo que deveria ser seguido por todos os profissionais", disse o secretário de Urbanismo, Sérgio Dias.

Durante o encontro, Eduardo Paes propôs o desafio ao arquiteto de redesenhar o Palácio do Samba, como é conhecida a quadra da Mangueira.

Ele lembrou que algumas escolas reformaram suas quadras, como a União da Ilha e a Portela, em um movimento para garantir o autossustento às agremiações. "Descobri nas entrelinhas que ele é mangueirense", afirmou Paes. Dona Vera, mulher de Niemeyer, não confirma. "Eu sou Portela. Como ele vai na minha onda, acho que ele também é Portela", brincou.

Paes comentou ainda o pedido do Ministério Público, para que órgãos fiscalizadores da prefeitura – como a Câmara de Vereadores e o Tribunal de Contas do Estado – devolvam seus camarotes. "Achar que alguém vai deixar de fiscalizar a prefeitura por causa de um camarote é ingenuidade", afirmou. "Se tem criminosos, delinquentes ou contraventores agindo no carnaval, ou em algumas escolas de samba, que sejam tomadas providências contra esses delinquentes, não contra o carnaval."

Estadão